quarta-feira, 9 de abril de 2014

LIBERDADE E SEMANA SANTA - PELO PADRE JOSÉ LENILSON (SÃO JOSÉ DE MIPIBU-RN)

“É para liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5,1). Como sabemos, esta afirmação de Paulo foi escolhida pela CNBB para ser o lema da Campanha da Fraternidade de 2014, que trata sobre o tráfico de pessoas para os mais diversos fins, tais como trabalho forçado ou sub-remunerado, exploração sexual, adoção ilegal e venda de órgãos.  Em todas estas situações a dignidade humana é gravemente violada e desfigurada a imagem de Deus, cuja “glória é o homem vivo” (S. Irineu), isto é, o ser humano com todas as possibilidades de viver de modo tranquilo a sua própria vocação.
Todas as facetas da escravidão põem suas raízes na realidade teológico-social chamada “pecado”. De fato, o pecado “é uma falta ao amor verdadeiro para com Deus e para com o próximo, por causa de um apego perverso a certos bens” (Catecismo da Igreja Católica, n. 1849). O apego desordenado ao dinheiro, por exemplo, leva os “humanos” a venderem seus próprios semelhantes para a indústria do sexo, para a exploração de suas energias no trabalho, para a extração de partes de seu corpo. Já o apego extremado à vida pode levar um rico a comprar um órgão de um pobre necessitado. Há ainda o caso de sentir-se no “direito de ter um filho”, quase vendo a criança como um objeto de posse. Pela sua própria condição racional, a pessoa humana pode intuir que a utilização do outro como produto de mercado ou fonte de enriquecimento ilícito são ações por si mesmas intrinsicamente más. Contudo, é a fé que favorece uma luz de esperança para superar os mais variados modos de escravidão. Depois de afirmar que “é para liberdade que Cristo nos libertou”, o Apóstolo acrescenta: “Permanecei firmes, portanto, e não vos deixeis prender de novo ao julgo da escravidão” (Gl 5,1). A liberdade à qual a Palavra de Deus nos convida a permanecer firmes é sem dúvida aquela operada por Cristo, o único capaz de realizar a liberdade redentora do homem todo e de todos os homens: “Se, pois, o Filho vos libertar, sereis, realmente livres” (Jo 8,36).
Toda promoção da liberdade encontra em Jesus Cristo o seu mais autentico fundamento. A Semana Santa apresenta-nos o mistério de Deus que libertou o Povo de Israel da escravidão do Egito (Ex 12 – 15) e, mais ainda, a imolação do Filho de Deus para regatar, definitivamente, os seus irmãos, até então, escravos do pecado, do demônio e da morte. O modo pelo qual o Cristo realiza a nossa redenção é que causa espanto, admiração e, também, comoção: sendo inocente fez-se culpado, tudo podendo permitiu ser humilhado, deu-nos a Vida morrendo e, quando ressuscitou, restituiu a liberdade para toda a criação. Um antigo hino pascal manifesta perfeitamente a prodigiosa ação do Libertador: “Cesse o pranto, cesse o luto: Jesus já não morre mais. Salvou o mundo corrupto e tornou-nos imortais”. A salvação operada por Cristo é, sem dúvida, a maior libertação do homem e do mundo. Pena que, por vezes, “assistimos” os atos destes dias a distancia, mesmo estando, fisicamente, próximos. Quantos prantos ainda ecoam no mundo? Quanto luto e quanta dor! Pessoas humilhadas no trabalho e por trabalho, doentes morrendo nos corredores dos hospitais, crianças chorando pelos cantos das casas e das ruas, mães desesperadas pelos jovens que não chegam mais vivos, mulheres e homens tratados como “coisa” que se compra para o “prazer abusador”. Mais uma Semana Santa, mais um grito do alto da Cruz: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” A resposta de Deus foi inesperada por nós: o silencio e, depois – quando tudo parecia perdido – a Ressurreição. Deus fez tudo que lhe competia! No Ressuscitado, Ele deu as condições de vida e liberdade para a sua Imagem que abita nesta terra. Agora resta a nossa parte: “Onde está teu irmão?” (Gn 4, 9), onde teu irmão chora escravizado? Nossa resposta é a mesma de Caim: “Acaso sou guarda do meu irmão?” (idem). Podemos, pelo contrário, viver a Semana Santa com a atitude do Cristo que “tendo amado os seus que estavam no mundo, amo-os até o fim” – até o extremo (Jo 13, 1). Deus tenha piedade de nós!

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