Mesmo que seja afirmado que vivemos
uma época de individualismos e egolatrias, fruto da emancipação da
subjetividade em detrimento da comunidade e do institucional, o valor da comunidade
não pode ser renegado, nem relativizado. Os paradigmas culturais que formaram a
civilização ocidental, a saber, o grego e o hebraico, sempre tiveram
clarividente que o ser humano está na comunidade como ser político
(Aristóteles) e como aquele que não pode estar só (Gn 2,18). Esta consciência
de que é com o outro, na comunidade, que a realização humana e existencial
acontece, sempre foi referência da condição humana em todos os tempos. Este
fato social não pode ser desfeito, no que é essencial para as perspectivas da
Humanidade, nem muito menos no que acidental para a História das Civilizações.
Autores como Zigmunt Bauman e Michel
Maffesoli retomam esta questão sobre o fenômeno da vida em comunidade na
Pós-modernidade. O primeiro a descreve como fato social que existe de modo
líquido, ou seja, de modo banal, superficial e objetual; em contrapartida, o
segundo a enfatiza como realidade efêmera, de composição cambiante, com
inscrição local e com ausência de organização, ou seja, com configurações
tribais e grupais. Mesmo com prerrogativas da subjetividade moderna, estes
pensadores retomam, mais uma vez, a importância da vida em comunidade como
lugar imprescindível da realização humana na contemporaneidade. Poderíamos
dizer o seguinte: se no período clássico a comunidade era constitutiva do
estatuto ontológico da pessoa, na época hodierna a comunidade é constitutiva das
relações individuais das pessoas.
A Igreja não pode desconsiderar esta
mudança de mentalidade que vai gerar a mudança de época. Esta conjuntura não é
mais institucional; mas individual e pessoal. Aliás, desde o Concílio Vaticano
II, com a reviravolta bíblica e litúrgica, veio também a personalista (Hans
Balthasar), a nossa mãe e mestra já reconhecera que a pessoa é centro de toda a
sua vida pastoral e missionária. Por isso, convocou a todos que a compõe para
uma renovação interna “sem ruptura”, que a levasse a um profícuo diálogo com o
mundo, para o qual ela deveria ser Sacramento de Salvação.
A Paróquia é o lugar capilar da vida
da Igreja. É nela que estas mudanças começam a acontecer. Ela é esta célula
constitutiva das igrejas particulares e, consequentemente, da catolicidade da
Igreja. A adequação das suas práticas missionárias e pastorais às provocações
da atualidade são urgentes e desafiadoras. A V Conferência de Aparecida falou
da necessidade da Conversão Pastoral (N. 356-66). Atentos aos sinais dos tempos,
os nossos pastores afirmaram que esta mudança estrutural não aconteceria se não
houvesse uma conversão dos batizados que estão na Igreja e que precisam ser
Discípulos/Missionários de Jesus Cristo. A paróquia só será Comunidade de comunidades
se a mesma se tornar lugar do encontro dos que a compõem com Cristo e destes
entre si. Para haver renovação das paróquias elas precisam ser comunidades de
amor e do encontro; precisam urgentemente ser mais “humanizadas”; devem ser casa
de acolhimento por excelência da vida do Povo de Deus.
Por fim, nos empenhemos todos para
que a vida da Igreja retome o caminho das primeiras comunidades cristãs! (At.
2,42-47). A resposta mais coerente para o Mundo de como podemos e devemos viver
em comunidade, os primeiros e mais autênticos cristãos já o fizeram, renovando assim,
a vida de todas as instituições e comunidades. As paróquias podem retomar esta
caminhada de Discípulos/Missionários de Jesus Cristo. Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Vigário Episcopal Sul da Arquidiocese
de Natal-RN
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