O tema da crise entrou no vocabulário
das ciências humanas e teve seu eco na teologia. Isto porque, mesmo como
ciência ou discurso sobre Deus e a sua Revelação, esta última não dispensa os
outros paradigmas para poder atualizar a sua reflexão às circunstâncias nas quais
os fiéis estão inseridos. Quando fazemos um breve percurso na história desta augusta
ciência, vemos que este intento sempre fez parte da sua trajetória
epistemológica.
A vida e o ministério dos presbíteros
não podem ser interpretados só e somente só com categorias das ciências
sociais. Trairiamos o objetivo e o objeto da ciência teológica se assim o
fizéssemos. O grande erro de outros estudiosos em querer anular esta reflexão,
e até negá-la, está neste ponto. Temos que pensar o seu tecido tendo como
pressuposto o dado da fé. Para nós, cristãos, esta referência deve ser
clarividente. O Papa emérito, Bento XVI, ao promulgar o Ano da Fé, chamou-nos a
atenção acerca deste dilema do homem contemporâneo. Este passa por uma profunda
crise de fé (Porta Fidei, n. 2). O pontífice não diz que quem está fora da
Igreja é que passa por esta crise ; mas fala a todos e especialmente a quem
está dentro da Igreja.
Autores duma linhagem teológica mais
voltada para a historicidade da fé e sua relação com o circunstancial, como
Clodovis Boff e J. Batista Metz, estão escrevendo sobre a necessidade duma
mística cristã que corresponda aos anseios do homem de hoje. Sabemos que estas
proposições não carregam em si nenhuma novidade para a antropologia cristã;
contudo, o que podemos tirar como conclusão é que até mesmo quem condiciona o
evento cristológico às categorias da filosofia moderna de perspectivas mais
históricas, que não quer dizer historicistas, já estão sentido que os elementos
da subjetividade contemporânea não podem dispensar os dados e possibilidades da
teologia, mas, outrossim, estes não podem exorcizar os elementos que direcionam
a existência da condição humana na Posmodernidade. A afirmação do Papa teólogo
é uma assertiva de alguém que faz a hermenêutica da realidade a partir de Deus,
ou seja, com um olhar teológico da Igreja e do Mundo. O presbítero de hoje
passa pelos mesmos dilemas que afligem os ser humano na Modernidade. Dentre
estes a falta de Fé pode ser constatada. O evangelista afirma que conhecemos a
árvore pelos seus frutos (Lc 6,43-44). A condição existencial do presbítero não
pode ser ingenuamente ou sorrateiramente deixada em segundo plano. Até mesmo na
teologia escolástica era reconhecido que do ser é que temos o existir. Na
teologia patrística o aforismo de que a graça pressupõe a natureza também era
enfatizado. A falta de motivação na vida de muitos presbíteros tem que ser analisado,
antes de tudo, numa dimensão teológica. Ousariamos dizer que há a necessidade
de recuperar “a mística da vida presbiteral”. O Concílio Vaticano II na
Presbiterorum Ordinis já nos deu pistas de ação e de conteúdo para fazermos
alguns questionamentos e buscarmos algumas soluções. Porém, podemos e devemos
ir além. Os problemas que violentam a humanidade dos presbíteros de hoje são
ferozes e a pedagogia da Igreja com a sua disciplina nem sempre são observadas
na escolha e na formação dos futuros presbíteros. Porque passamos por alguns
contratempos, devemos ter presente que só a própria Igreja seria capaz de
responder a muitos questionamentos; tendo em vista o que ela foi, é e sempre
será para a História da Civilização. Conferências e simpósios são realizados
para discutir sobre a “identidade presbiteral”; contudo, já está na hora de
tratarmos da “existência presbiteral”. Só quando cumprirmos esta tarefa
poderemos dar uma resposta mais realista e honesta sobre a vida e o ministério
dos presbíteros para o mundo de hoje. Esta mística presbiteral pode ser
ressignificada se a própria vida cristã for fortalecida por uma fé que converte
e que testemunha o que professa.
Por fim, os próprios presbíteros são
os principais protagonistas desta empreitada. Comecemos por renovar, a cada
dia, o nosso amor e a nossa fidelidade ao ministério para o qual o Senhor nos
chamou e a Igreja nos confirmou. Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Vigário Episcopal Sul da Arquidiocese
de Natal
Pároco de São José de Mipibu-RN
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