Na vida em comunidade temos
conflitos. Quem não quiser tê-los viva sozinho. O Papa Francisco nos disse
nestes últimos dias que seria caso de psiquiatria o fato de não queremos viver
com amigos e isolados. A vida em comunidade tem, também, esta riqueza: é nela
que nos tornamos mais humanos. Diz o salmista que “é bom os amigos habitarem
todos juntos” (Sl 133,1). Saibamos que não existe possibilidade de vida
comunitária feliz sem o reconhecimento do Outro. Ou será que almejamos viver na
comunidade sem estar com o Outro?!
Temos que estar cientes da existência
dum problema político a ser aprofundado para o amadurecimento da Democracia na
Posmodernidade. A alucinação da subjetividade desconstruiu os paradigmas
tradicionais, mas ainda não elaborou epistemologicamente o que deseja para o
Ser Humano que está aí, neste momento da História. Existe uma desordem social,
porque se confunde o que é o Humano na sua Totalidade. Esta só pode ter Forma
se partir do que é essencial para o acidental, e não do acidental para o
essencial. Onde é que podemos encontrar o Humano a não ser nele mesmo, com sua
individualidade e na Totalidade. Para isto, se faz necessário o “acolhimento da
corporeidade como meio do ser para os outros, a corporeidade humana pertence
essencialmente a sua personalidade” (R. Spaemann). Quando esta é vista como um
dado secundário, desencarnando a subjetividade da sua estrutura biológica,
teremos sérios problemas para que a Diferença não torne-se Diversidade, mas sim
complementaridade. A falta de aprofundamento antropológico do conceito de
Diversidade está ofendendo e confundindo a verdade sobre a Democracia. É
sofismático e violento o intento de muitos grupos subjugarem os interesses da
maioria dos cidadãos para serem reconhecidos pelos semelhantes. Onde está o
problema? Na superficialidade da ideia de Diversidade que é apresentada pelos
ideólogos atuais.
Uma proposta que deveria ser pensada
nos ambientes acadêmicos que tratam destas questões é a ideia de Alteridade.
Pensadores como Emmanuel Levinas e Martin Bubber podem ser referências neste
campo. Só pela aceitação do Outro como pessoa, seja (ele/ela) ateu, religioso,
negro, branco, agnóstico ou afins, será possível o reconhecimento do Outro como
Ser Humano, com direitos e deveres a serem respeitados. O Outro não é o
Diverso, O Outro é o Diferente que nos completa pela sua e pela nossa Condição
Humana. A Democracia tem que ser pensada na Posmodernidade como meio de
Encontro dos Diferentes, não como oposição entre as Diversidades. Nunca haverá a
Tolerância, tão estimada pelos Iluministas, sem essa possibilidade prévia de
respeito entre os Seres Humanos por aquilo que eles são e não por aquilo que
eles não são e nunca poderão ser. Violentar o natural é irracional.
Por fim, temos que ir adiante nesta
questão. A realidade é muito complexa e ao mesmo tempo real e verdadeira. Não
podemos destruí-la com a mentira e a força. Só a verdade sobre o Ser Humano vai
fazê-lo capaz de aceitar as novidades com as quais ele terá que conviver. Mas
estejamos atentos! Isto não acontecerá se nós não formos capazes de parafrasear
o salmista: “Como é bom que a Humanidade esteja bem unida”! Que o Deus do amor
e da paz nos abençoe! Assim o seja!
Pe. Matias Soares
Pároco de São José de Mipibu-RN e
Vig. Episc. Sul.
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